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Bunkers nazistas são abertos ao público

O sistema de bunkers do Atlântico, construídos entre 1936 e 1944 nas fronteiras do Antigo Reich alemão, representa parte significativa da herança da ditadura nazista. Mas a capital, Berlim, também conta com seu próprio subsolo de bunkers nazistas. No principal, onde Adolf Hitler viveu seus últimos dias, de 16 de janeiro a 30 de abril de 1945, e que foi explodido pelos soviéticos depois da Segunda Guerra Mundial, a fundação Berliner Unterwelten (Submundos Berlinenses) depositou uma placa, lembrando que ali acabou o capítulo mais sombrio da História da Alemanha.

Bunker de Adolf Hitler destruído em 1945.
Os restos do bunker de Hitler foram soterrados na era comunista - essa parte de Berlim ficava na extinta República Democrática Alemã - para evitar que se tornassem local de culto de neonazistas, mas cinco instalações daquela época, inclusive o bunker militar, em Humboldthain, estão abertos à visitação.
A equatoriana Silvia Brito Morales, de 50 anos, funcionária da fundação, é responsável por fornecer dados sobre os locais:
- Os visitantes costumam ficar boquiabertos quando conto sobre os episódios dramáticos que ali ocorreram, sobretudo nos últimos anos da guerra, quando Berlim foi severamente bombardeada pelos aliados.

Ultima foto de Adolf Hitler tirada na saida de seu Bunker em Berlim - 27 de Abril de 1945.
Também fazem parte do programa um bunker usado por mulheres e crianças, outro que serviu como hospital de emergência para feridos nos bombardeios, um dos bombeiros e um último da Defesa Civil, com lugar para mais de 2 mil pessoas, o maior que restou dessa era.
Há ainda um bunker para os interessados em arte. O local, que serviu de abrigo para nazistas e civis, foi comprado pelo colecionador Christian Boros, que abriu ali um museu de arte contemporânea em um ambiente histórico, o Sammlung Boros, que conta com obras de artistas como o alemão Joseph Beuys. A entrada é na rua Reinhardt, a 1Km da antiga Chancelaria de Hilter, a sede do poder, destruída no fim da guerra.

A história do local que abriga o Sammlung Boros é ainda mais interessante do que os objetos de arte mostrados. Depois da guerra, o bunker ficou no lado oriental de Berlim, como quase todo o antigo centro do poder. Nos primeiros anos de divisão, os comunistas usaram o local como prisão de dissidentes. Mais tarde, o abrigo subterrâneo foi usado como depósito de bananas, a fruta preferida dos alemães orientais.
Abrigo usado como museu já foi depósito e discoteca
Quando o muro caiu, em 1989, o antigo bunker nazista foi usado durante alguns anos como discoteca de música pop e techno antes de ser comprado por Christian Boros. Depois de uma reforma de cinco anos, ele abriu o museu em junho.
- É difícil caminhar 500 metros em Berlim sem presenciar os testemunhos da História da cidade e do país - disse o advogado Ingram Lösche, após ver a exposição "A Rua Wilhelm, 1933 a 1945 - Ascensão e Queda do Bairro do Governo Nazista", em exibição até novembro.
A exposição da fundação Topografia do Terror mostra fotos e textos sobre a central do poder, a rua e o terreno da central da Gestapo. O prédio foi destruído, mas restos das paredes do subsolo, por ironia, junto com restos do antigo Muro de Berlim, são vistos como símbolos das tragédias alemãs do século XX.
- Depois da guerra, o capítulo ditadura nazista funcionava como lavagem cerebral nas escolas, ninguém suportava mais ter que lembrar quando Hitler ou Goebbels disseram isso ou aquilo. O importante para que a História não seja esquecida é que ela seja lembrada no lugar onde aconteceu - diz Lösche.
Dois prédios mostrados na exposição ainda existem. Um é parte do antigo Ministério da Propaganda, de Goebbels. O outro, o antigo Ministério da Aeronáutica, onde Tom Cruise rodou cenas do filme "Operação Valquíria", permanece intacto. Localizado perto da Chancelaria e do bunker de Hitler, ele abriga hoje o Ministério da Fazenda.
Mas pouco se vê hoje da pompa mostrada nas fotos de manifestações populares na Praça Wilhelm. O que restou da chuva de bombas dos últimos meses da guerra foi coberto de prédios em estilo socialista. O lugar da Chancelaria - construída por Albert Speer, sob a orientação de que "quem entrar na Chancelaria do Reich deve ter a impressão de estar diante do Senhor do Mundo" - foi pontilhado de prédios de apartamentos para funcionários comunistas. Hoje, apartamentos de aluguel. Já o acesso ao bunker de Hitler dá para um supermercado e um restaurante chinês. No terreno que serviu de sede do Terceiro Reich, em seus últimos meses, hoje há um estacionamento.